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Boa Tarde Bem-Vindo a Freenote, Login ou Crie sua conta
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Transcrições para violão, guitarra e/ou teclados (Melodia, letras e acordes) dos grandes sucessos; incluindo: A Qualquer Tempo, Caçador de Mim, Dança do Tempo, Espanhola, Ilha do Mel, Linda Juventude, Nova Manhã, Planeta Sonho, Todo Azul do Mar, e outras!!!
Neutra Editora
Músicas:
A Qualquer Tempo
Adoráveis Criaturas
Além Paraíso
Caçador De Mim
Canção Sem Fim
Canções De Guerra
Carrossel
Cinema Imaginário
Ciranda
Dança Do Tempo
Doce Loucura
Espanhola
Espelho Das Águas
Esquinas De Tantas Ruas
Ilha Do Mel
Linda Juventude
Mais Uma Vez
Mel Do Amor
Melhor
Mesmo De Brincadeira
Natural
Nave De Prata
No Meio Da Cidade
Nova Manhã
Nuvens
O Fogo Do Teu Olhar
Passeio Pelo Interior
Pedras Rolantes
Pele De Verão
Pequenas Coisas
Pequenas Maravilhas
Perdido Em Abbey Road
Planeta Sonho
Ponta De Esperança
Pra Te Namorar
Queima Baby
Querer Bem
Razões Do Coração
Romance
Siga O Sol
Só Se For
Sonhando O Futuro
Sonho De Valsa
Todo Azul Do Mar
Uma Velha Canção Rock’n’roll
Vida Nova
Xadrez Chinês
14 BIS – MULTIVERSOS PARA MULTICANÇÕES
O planeta calma será Terra,
o planeta sonho será Terra
E lá no fim daquele mar
a minha estrela vai se apagar
Como brilhou, fogo solto no caos
Canções que fazem tirar a cabeça do planeta e os pés do chão – esta poderia ser uma síntese nada definitiva da música trepidante e eloquente do 14 Bis.
Nada definitiva porque não abrangeria o aspecto reflexivo e social de muitas de suas canções, que nos convidam a sair um pouco de nós mesmos e considerarmos o todo, como nesses versos:
A voz dos homens bons
Quer primavera em flor, não devastação
Clareia a hora e vez
De derramar dentro de nós a sensatez
Todo mundo é irmão
Esta verdade é muito simples de se ver
Poderiam ser também as canções de uns caras declaradamente românticos, que singram à vontade essas ondas leves:
Daria pra pintar todo azul do céu
Dava pra encher o universo
da vida que eu quis pra mim
Tudo que eu fiz foi me confessar
Escravo do seu amor, livre pra amar
Mas faltaria então mencionar aquele lado hippie e estradeiro, que tanto influenciou a juventude daqueles dias e até hoje ressoa aquela boa vibração, nos versos sempre convidativos e atuais:
Penso em você, no seu jeito de falar
Sua maneira de ser e perguntar o que é muito natural
Como é natural em você acontecer
Um desejo de ver a cor da estrada e desaparecer
Ou então:
Nessa estrada um pé nas nuvens outro pé noutro lugar
Uma saudade, uma viagem onde vai meu coração
Versos meus, versos de Ronaldo, versos de Murilo, todos transfigurados pela presença multiforme e dionisíaca desses 5 magos do palco.
O 14 Bis é camaleônico, caleidoscópico, multifacetado e polivalente, sempre regido por um grande bom-gosto e um sentido de espetáculo que tantas vezes inovou no cenário da música brasileira.
Tenho orgulho e honra de ser amigo deles, que desde há muito me declararam o 15º Bis e ainda hoje repetem isso em seus superlotados shows.
Sou mesmo, com muita satisfação, desde aqueles tempos de lindos contos de fantasia, Close to the Edge, vividos por jovens amigos e hoje recontados pelo filtro da memória de homens mais que adultos.
Minha história afetiva e musical se confunde com a dos meus amigos do 14 Bis, desde muito antes deles se juntarem para formar o lendário e longevo grupo, que ainda hoje, tantas décadas depois, continua sendo um dos maiores, senão o maior, esteio do rock nacional.
TUDO DE MIM, TUDO DE NÓS
O 14 Bis foi criado no final de 1979, em Belo Horizonte, oriundo da turma original que se reunia desde muito antes, na garagem da casa dos irmãos Venturini, atrás do grupo Escolar Pedro II, na avenida Pasteur. Era a Pensão da Dona Dalila.
No vizinho bairro de Santa Tereza, Lô também crescia em meio ao ambiente de ensaios e música ao vivo que se formara lá em casa, em torno de mim, Marilton, Bituca e nossos agregados. Pianos, violões, contrabaixos, flautas, percussões e panelas amassadas, bem como canetas e cadernos, faziam parte do cotidiano daquele bando de irmãos musicais, arruaceiros e boêmios, os filhos de Salim e Maricota, pai e mãe dos Borges. Nada diferente da garagem de Dona Dalila, portanto.
Belo Horizonte era o universo numa casca de noz. Impossível que dois ímãs como o dos irmãos Venturini e o dos irmãos Borges não se tocassem, mais cedo ou mais tarde.
Não sei como, Lô fez as aproximações, aparecendo para um ensaio na garagem dos irmãos Venturini. Sei que fiquei amigo primeiro de Kimura, irmão adotivo da família deles. Logo, Vermelho, Silvana, Beto Guedes, e outros garotos, estavam se encontrando lá porta de casa, prelúdios do tal clube da esquina.
Flávio aparecia para jogar bola conosco no Mercadão Distrital e mostrar que era bom de bola pacas. Poderia ter sido boleiro profissional, se as Deusas da Lira não o tivessem irremediavelmente cooptado antes.
Lô, Murilo e Fernando também eram bons de bola. Pangarés mesmo éramos eu, Beto e Bituca - nenhuma intimidade com a pelota.
Pois bem. Quando chegou 1979, ano da formação oficial do grupo, aqueles meninos já tinham rodado altas quilometragens antes de se juntarem para formar o 14 Bis.
Cláudio, o Venturini caçula, virtuoso guitarrista, já tinha gravado o "disco do tênis" com Lô Borges e o acompanhava em shows. Flávio já havia participado de discos do Milton e estrelava o antológico grupo O Terço, com os Sérgios, Magrão e Hinds.
Patrono da ideia, veio para o 14 Bis e trouxe o carioca Magrão consigo.
Vermelho e Hely Rodrigues tocavam no grupo Bendegó, que contava ainda com Capenga, Gereba e Patinhas (que viria a ser o poderoso publicitário João Santana). Convidados por Flávio, subiram a bordo.
Os cinco, quatro mineiros e um carioca, incorporaram o 14 Bis com entusiasmo. E alçaram voo, levando seu aeroplano aos céus do Brasil.
A VOZ QUE VEM DO CORAÇÃO
Éramos todos apaixonados pelas mesmas fontes, Beatles, rock progressivo inglês, Yes, Genesis, músicas do Clube da Esquina, aquelas harmonias lindas de Milton Nascimento, Nelson Ângelo, e do próprio Lô, que já brilhava com luz própria.
Na hora de gravar o primeiro disco, nada mais natural que o Bituca, Milton Nascimento, padrinho de tantos músicos novatos e ótimos, exercesse a direção da produção.
A EMI-Odeon tinha excelentes executivos, gente de um caráter excepcional e raro no meio. Confiavam nos jovens artistas e assinavam na capa dos discos: DISCO É CULTURA. Ofereciam-nos suporte técnico, bons estúdios, bons engenheiros de som.
Assim, os jovens partiram para a gravação de seu primeiro long-playing, em 1979, intitulado simplesmente 14 Bis.
Bituca, prova viva do sucesso daquela filosofia empresarial, não só avalizou a moçada do 14 Bis perante a diretoria executiva da EMI–Odeon, como produziu o disco e ainda deu-lhes de presente a obra-prima dele e de Fernando Brant, Canção da América, que é até hoje, tanto tempo depois, um dos principais hits do grupo.
Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção
Que na América ouvi
O 14 Bis tem a glória perene de ter sido o primeiro a gravar tão solenes e indeléveis versos.
Para este disco inaugural, eu contribui com a canção Ponta de Esperança, feita em parceria com Flávio e Vermelho:
Clareira,
Ponta de esperança
A porta dos corações
Sempre aberta pra nós
O 14 Bis pôs o pé na estrada e saiu a fazer shows por este país afora, atraindo cada vez mais gente para seus espetáculos de grande poder visual e impacto sonoro.
Eu seguia compondo com eles.
FOGO SOLTO NO CAOS
No ano seguinte, 1980, eles lançaram um disco altamente conceitual, na minha opinião, a obra-prima deles, o 14 Bis II. Neste disco havia canções excepcionais como a então inédita Caçador de Mim, inspirada parceria de Sérgio Magrão e Luis Carlos Sá, o qual já tinha recebido Flávio Venturini pré-Terço em seu trio com Rodrix e Guarabira (mais uma prova de minha teoria de ímãs se atraindo).
Por tanto amor, por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz, manso ou feroz
Eu, caçador de mim
E apresentava ainda outro presente inédito da dupla Nascimento e Brant, a inesquecível Bola de Meia, Bola de Gude.
Há um menino, há um moleque,
morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
ele vem pra me dar a mão
Esse disco era tão notável que ainda tinha uma parceria maravilhosa de Vermelho e Flávio com o genial Tavinho Moura, a sensível Nova Manhã, que cantava:
Para melhor a gente compreender
o que feriu sem parar e te levou
Nenhum lugar e nada para falar,
o que ficou de nós dois não faz sentido
Grandes sucessos, sem dúvida.
Mas nenhum superou a estrondosa receptividade da canção que mudou minha vida e meu status de compositor, até hoje um dos 3 maiores sucessos que compus em quase 50 anos de carreira.
Eu morava no Rio e era vizinho de Flávio no Jardim Botânico. Naquele seu apê da rua Peri, compartilhamos altos rangos e noitadas de música. Numa dessas ocasiões. ele me apresentou uma canção grandiloquente e pomposa, solene, marcial, em tudo e por tudo muito impressionante. Fiquei apaixonado na hora e derramei meus versos sobre ela.
De coração.
Até hoje me emociono ao lembrar da sensação indescritível de ver a babá empurrando o carrinho de bebê e cantando pelas ruas de Copacabana;
E lá no fim daquele mar
a minha estrela vai se apagar
Como brilhou, fogo solto no caos
ou o trocador de ônibus, absorto:
O planeta sonho será terra
Meu grande orgulho, um dos maiores sucessos do 14 Bis em todos os tempos: Planeta Sonho.
O 15º Bis estava se revelando um pé-quente.
AONDE O POVO ESTÁ
Em 1981, o 14 Bis lançou Espelho das Águas, um disco do qual participei desde o conceito inicial. Com Vermelho, Flávio e Hely criei 3 novas canções, No Meio da Cidade, Dança do Tempo e Vale do Pavão.
Mais uma vez, o grande estouro veio de outro presente da dupla Nascimento e Brant, padrinhos carinhosos de seus amigos roqueiros. Desta feita deram-lhes a inédita e insuperável Nos Bailes da Vida. Foi assim que o 14 Bis imortalizou esses versos que se tornaram ditado popular:
Com a roupa encharcada, a alma
Repleta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se foi assim, assim será
Cantando me disfarço e não me canso
De viver nem de cantar
CLARO COMO O SOL RAIOU
Em 1982, eu, Vermelho e Flávio compusemos Além Paraíso que deu título ao disco que o 14 Bis gravou naquele ano.
Nosso querido amigo e parceiro Murilo Antunes, outro frequente fornecedor de poesia para os trabalhos do 14 Bis, compareceu com Passeio Pelo Interior e ainda compôs com Flávio e Vermelho a definitiva Uma Velha Canção Rock`n Roll:
Ainda hoje inda bem no caminho
Vem alguém, mas alguém muito mais
Canto alegre não sigo sozinho
Uma velha canção rock'n roll
Essa tocou muito e fez muito sucesso.
Mas a música deste álbum que aconteceu mesmo ¬– e se eternizou para todo o sempre amém – foi outra.
Uma certa manhã, Flávio me convidou para ir ao seu apartamento da rua Peri. Ali me convocou para fazermos uma canção em homenagem ao nosso querido amigo Bituca, mas não queria nada muito explícito e nem piegas.
Desde os primeiros acordes de violão, a canção que Flávio executava era simplesmente linda e poderosa. Pensei na imagens que figurassem aquele homem soberano, um rei negro de linhagem ancestral. Pensei num passarinho. Zabelê. Em Zumbi dos Palmares. No Mestre Besouro da capoeira. A primeira frase ditou o ritmo das imagens cascateantes que minha letra fez jorrar
em Linda Juventude:
Zabelê, Zumbi, Besouro
Vespa fabricando mel
Guardo teu tesouro, joia marron
Raça como nossa cor (...)
Fado, sina, lei, tesouro , etc.
Virou hit assim que foi lançada e até hoje, quase 4 décadas depois de composta, continua arrebatando os corações dos jovens que cantam de cór os versos dessa incrível canção.
Em 1983, eles lançaram A Idade da Luz e eu compus com Vermelho a nossa Nave de Prata ("tenho meu coração preparado pra flutuar...") que voou junto com o 14 Bis.
Mas, sem dúvida, o estrondoso sucesso deste disco foi Todo Azul do Mar.
Foi assim como ver o mar
A primeira vez que meus olhos
Se viram no seu olhar
Todo mundo conhece esses soberbos versos de Ronaldo Bastos, sobre o delicado tema de Flávio Venturini. Uma das mais espetaculares canções jamais criadas.
PINTURA DE NUVEM
Em menos de 4 anos, 5 discos antológicos.
Depois eles continuaram a viagem abrindo o leque para novas parcerias, como por exemplo em A Nave Vai, de 1985, em que brilham os versos do poeta Chacal, não por acaso antigo participante do coletivo de poetas chamado Nuvem Cigana, em que figurava com destaque junto com Ronaldo Bastos, Ronaldo Santos e Bernardo Vilhena.
Eu venho de terras estrelas de outro lugar
Estou a seu lado na rua tentando me achar
escreve Chacal em Sem Duvidar.
Nesses tempos eu fui morar na França e fiquei um ano sem participar dos trabalhos do 14 Bis. Nesse período Flávio saiu do grupo para enveredar em sua bem-sucedida carreira solo.
O disco Sete é o último disco de canções inéditas gravado com a formação original da banda.
Para esse disco eu compus com Vermelho e Flávio mais 3 canções, Canção sem Fim, Anoitecer Deserto e Cidade Perigosa.
A parceria com Renato Russo em Mais uma Vez foi o grande hit desse trabalho.
Naquele mesmo ano de 1987, eles gravaram seu primeiro disco ao vivo e aí novamente nossos sucessos anteriores pontificaram, quando lançados no ano seguinte.
O décimo disco, Siga o Sol, de 1996, é também o primeiro gravado e mixado fora do Brasil. Regravaram Faça Seu Jogo, minha e do meu irmão Lô, relíquia do disco do tênis e, além desta, gravaram duas outras canções de minha autoria, Outra Estrada, parceria com Murilo Antunes e Flávio, e As Contas do Amor, com Cláudio Venturini e Vermelho.
Em 2004, o 14 Bis gravou o disco Outros Planos. Para ele, eu, Lô e Vermelho criamos uma canção muito linda chamada Sete Raios de Cristal, que dizia assim:
As lendas da paixão são aqui mesmo
Nesta terra onde estou
Amar e possuir, cuidar dos seus amores
Isto é ser feliz
O nosso planeta azul
É linda casa, onde a paz deve morar
Se o coração limpou, abriu as portas
De um templo de cristal.
E ainda cantamos, em Palavra Coração:
Sou seu fã
Sou forte pra te segurar
Vou tocar
Fogo na manhã
E essa onda que vem lá
Vai me levar
No melhor sentido da palavra coração
No melhor amor que pode ser
NO FINAL SERÁ O QUE NÃO SEI, MAS SERÁ
Este é o resumo do meu trabalho com o 14 Bis que eu tenho para mostrar. Mas sinto que ainda não é tudo. Em suma, continuamos amigos e na ativa até hoje. Então, temos canções novas engatilhadas. Enquanto isso, vou cultivando meu grande orgulho de ter escrito para eles cantarem frases e versos que continuo assinando embaixo com força e fé:
Quem vai plantar, quem vai colher
Quem vai negar que a gente faz acontecer.
Preciosa luz de glória
Onde ainda há tempo para dançar
Para brilhar
Sendo assim simples mortais
Eternamente mais
Já não importa nada
Se tenho boa razão para cantar
O meu amor sem fim
Queimando na dança da chuva
Molhado na dança do sol
Coração aberto
Semente do bem
Fruto sagrado do amor
MÁRCIO BORGES